Encontro com Deus no trabalho
"São verdadeiros monges se vivem do trabalho de suas mãos."
São Bento
O trabalho que continua a criação, à procura da beleza, simplicidade e harmonia. Encontro com a matéria, os sons, as cores. Aí acontece um processo de transformação.
Nos primeiros séculos existia uma heresia chamada “messaliana” que afirmava que os monges deviam sacrificar o trabalho pela oração, ou seja, o trabalho não era digno da vida monástica . Antes de tudo, era preciso rezar como escreve S.Paulo e o próprio Evangelho: “rezai sem cessar”. Santo Agostinho vai combater esta heresia escrevendo um tratado sobre o “trabalho manual”.
Aos poucos os monges vão descobrindo que devem trabalhar. Cassiano escreve assim: “o trabalho constitui uma verdadeira tecnica de oração e pretender rezar sem trabalhar é uma ilusão” . Sobre Santo Antão, o monge mais antigo da vida monástica, se escreve: “ O santo Abade Antão, certa vez sentado no deserto foi acometido de acédia e grande turbilhão de pensamentos ; disse então ao Senhor : como serei salvo? … Antão viu alguém semelhante a ele mesmo, sentado e trabalhando, a seguir levantando-se do trabalho e rezando, para de novo sentar-se e tecer a corda, e mais uma vez levantar-se para a oração”…
Ana a profetiza - Lucas 2
Símbolo da monja, serva de Deus noite e dia.
As mãos abertas estão disponíveis para o que o Senhor pede.
As mãos que intercedem são as mesmas que trabalham.
Aqui está o segredo da vida monástica : como serei salvo? É o ritmo entre trabalho e oração que equilibra a vida monástica.
Cassiano faz uma síntese entre o tabalho e a oração. Para ele o trabalho como experiência humana é um veículo para chegar a uma experiencia espiritual . O peso do trabalho é favorável para lutar contra os pensamentos ( Instituições II,14) . O trabalho é uma maneira de canalisar e controlar os desejos da alma. Para Cassiano, o trabalho e a oração são tão unidos que “não se sabe se é por causa da oração que os monges trabalham tão bem, ou se é por causa do trabalho que os monges rezam tão bem!”.
Para São Basilio a única motivação evangélica válida para o trabalho é a Caridade: “deve portanto, cada um, ter por escopo do trabalho servir aos necessitados e não as próprias vantagens”.
São Agostinho diz que o trabalho de todos no interior do mosteiro favorece a comunhão com Cristo, contribui para a edificação do Corpo de Cristo, para a Igreja de Cristo.
São Bento continua na linha de seus antecessores e dedica o cap 48 de sua Regra sobre a distribuição do trabalho e a leitura divina. Retomando Basílio e Cassiano ele escreve: “ a ociosidade é inimiga da alma” . Por conseguinte, devem os irmãos ocupar-se a certas horas do trabalho manual e da lectio divina . Todo esse capítulo nos mostra uma preocupação por assegurar ao monge uma ocupação constante para não cair na ociosidade. No séc VI, na Itália, a situação de muitos mosteiros não era de um grande entusiasmo pelo trabalho manual. São Bento revaloriza o trabalho, admite os trabalhos mais duros da agricultura e prevê uma venda fora do produto do trabalho dos monges ( Cap 57,4-9) .
Os membros da comunidade, de origem nobre, às vezes alfabetizados,aprendiam a trabalhar com as mãos, coisa a que não estavam acostumados.
Os membros da comunidade de origem humilde aprendiam a ler, coisa às vezes dificil.
Trabalho e leitura equilibram a vida. Pela primeira vez na história aparece um horário que prevê o tempo de trabalho, o tempo de leitura e o tempo de oração.
Este equilibrio permite progredir na vida espiritual e ganhar a vida.